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O silêncio na psicoterapia

Texto apresentado no Café com Gestalt, dia 03/09/2016.

Fabrício Basso


Há um potencial criativo no silêncio. É espaço, abertura para inscrição. Inscrição esta, que é expressa por um ato: uma fala, um gesto, um ruborescer, um sorriso, um som, um mexer no cabelo, enfim, uma ação. O ato nunca vem só, está entrelaçado, de mãos atadas com o outro e com outrem. Podemos definir como algo outro aquilo que não sou eu, e outrem como algo outro que não há definição, mas que se manifesta em nosso corpo.

A comunicação é o registro do outro-eu-mesmo (introjetado). É uma nova re-petição. É algo outro realizado por mim. Além da ação repetida de maneira nova, também se produz algo, um pedido, algo que não tenho, que “o outro” tem.

Nos comunicamos com alguém e para alguém. Em ambos, com e para, comunicamos com/para um ser: comigo mesmo (eu-outro-introjetado) ou com o outro (não eu).

Carrego comigo sempre o outro, e por isto nunca me basto. A re-petição é para que o outro me dê aquilo que eu lhe d(en)ominei; o outro, por sua vez, faz comigo a mesma coisa: deseja.

Aquilo que talvez fosse “mais meu” escapa. Pois, quando uso o outro para me expressar, algo meu – outrem- se esvai, não se encontra no outro. Apesar de esta ser a única maneira de nos expressarmos, sendo eu-outro.

Sendo assim, também há comunicação no silêncio, logo, uma criação. Portanto, este momento se torna muito valioso em um setting terapêutico, pois pode denunciar, ou dizer muita coisa.

É importante para o terapeuta saber lidar com o silêncio, pois nestes momentos é que ele possibilita, também, a aparição do outro/outrem. De si, e do consulente.

O silencio para o consulente.

O silencio para o terapeuta.

Muitas vezes o silêncio é gritante.

O silêncio é a ausência da dominação do outro. (do terapeuta, por exemplo que pode dar uma direção), é a iminência de algo outrem aparecer!

O silencio pode dizer muita coisa.

A pergunta que fica é: quem puxou quem para dançar esta música que compomos?