Texto apresentado no Café com Gestalt, dia 08/04/2017.
Fabrício Basso
Em clínica, o outro se apresenta a nós como algo outro, ou seja, como aquilo que não sou. E, é deveras importante que se mantenha esta relação ética. Entretanto, ao nos depararmos com algo outro, é muito comum tendermos a fechá-lo, defini-lo, dominá-lo. Na verdade, fazemos isto naturalmente. Porém, o setting terapêutico é justamente o lugar para que o outro possa fazer isto. Ou pelo menos ter a oportunidade, a possibilidade de fazer. É uma espécie de exercício de si mesmo, uma narrativa corporal criativa. Uma amarração que um corpo faz (função ego) com os afetos e os hábitos (função id), e as representações sociais, culturais (função personalidade).
Aliás, o setting terapêutico deve ser um lugar de acolhida ética. No sentido de poder dizer ali, coisas que não são ditas em outros lugares. Porém, por estarmos correlacionados em um campo, compartilhamos de uma mesma configuração no momento. Ou seja, a amarração que há ali, diz respeito à forma como os dois corpos, naquele campo, realizam diante das representações sociais e afetos presentes no campo.
O que quer dizer, desta maneira, que a possibilidade do outro aparecer está inextrincavelmente inter-laçado com a minha possibilidade de outrem surgir.
Portanto, a grande questão agora é: como possibilitar que outrem possa se manifestar? Em outras palavras, como possibilitar que eu possa escutar outrem falar?