Texto apresentado no Café com Gestalt, dia 30/03/2016.
Fabrício Basso
O acesso à internet nos possibilitou ampliar vários limites, sendo o principal deles: o físico. Podemos ter acesso a informações e pessoas de todo o mundo sem sair de casa ou em qualquer lugar e a qualquer hora. Nela, é possível fazer quase tudo que podemos realizar fora dela.
Conseguimos transcender algumas barreiras físicas, espaço-temporal. Praticamente não há morte na internet. Em certa medida transcendemos nossa condição mortal.
Outra faceta da internet é a de uma memória quase que eterna e infinita, estando disponível a todo o momento e a todos, bastando apenas uma atualização (um ato). Ou seja, ela nos possibilita uma espécie de consciência ampliada e compartilhada.
Entretanto, com a entrada da internet – de uma maneira mais impetuosa e massiva na atualidade* -, e as suas possibilidades, também veio algumas transformações em nossas vidas, como a maneira de se comunicar, de se relacionar com o outro e com si mesmo.
Conforme o entendimento de Chaui (2014) a internet é um produto da globalização da produção econômica que transformou a nossa experiência espaço-temporal. Que seria “(…) a compreenssão do espaço ou atopia – tudo se passa aqui, sem distâncias, diferenças nem fronteiras – e a compressão do tempo ou a acronia – tudo se passa agora, sem passado e sem futuro.” (p. 219)
Com toda esta transformação, a internet nos coloca diante de mudanças e limites sociais, pessoais e culturais. Novas culturas e novos paradigmas estão sendo estabelecidos e re-estabelecidos com a sua influência.
Não seria diferente na clínica, seja ela tradicional ou ampliada, também encontrarmos reflexos dela. Casos de sofrimento ético-político e antropológico, preconceitos diversos, ajustamentos de todo o tipo nos chegam envolvendo-a.
Sejam através dos discursos do consultório, na maneira como somos contatados e contatamos, para a primeira consulta ou durante o processo terapêutico, ou até mesmo em nossos próprios discursos e gestos na vida é importante entendermos a internet como um dado pertencente a um campo em que há um ajustamento, um laço social.
Esta nova maneira de se comunicar, relacionar-se com o outro, com si próprio, com os objetos, o íntimo, o privado, o mundo, enfim, esta nova maneira de se situar implica o clínico e o coloca e exige um posicionamento.
É diante de tal problematização que surgem algumas perguntas. Como é o contato na internet? O contato que ocorre na experiência com a internet difere, em algum sentido, de outras experiências sem ela?
Qual será a consequência da assimilação desta forma de experiência que remete mais a alguém espectador do que ator? De alguém que beija e é beijado pelo teclado, abraça e é abraçado por uma máquina, vê alguém e é visto por uma tela? Trará prejuízos à experiência, aos saberes corporal? Quais consequências terão aqueles sujeitos que serão – ou já estão sendo -, desenvolvidos com vivências mais reflexivas do que experiências corporais complexas? (como as crianças)
REFERÊNCIA
CHAUI, M. (2014) A ideologia da competência. Organizador André Rocha. Belo Horizonte: Autêntica Editora; São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2014. (Escritos de Marilena Chauí, 3)