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Entrevista sobre “acumuladores”

Matéria e entrevista realizada pela jornalista Thaís Pimenta do Jornal eletrônico campograndenews.com.br
Data: 25/02/18


Thaís: Como eu disse, a matéria trata sobre o que é considerado normal quando se fala em guardar objetos que nos recordam momentos positivos (ou às vezes até momentos negativos). Existe uma forma de saber que esse ato de guardar as coisas já está se tornando preocupante? Existe uma linha tênue entre acumular e só guardar essas recordações? E, mais uma coisa, ser um acumulador é uma coisa negativa? Preocupante? É uma doença ou um transtorno? Tem como curar?

Fabrício: Bom, acumular coisas não é necessariamente um problema ou uma doença. Somos “acumuladores” por natureza. Acumulamos informações, experiências, dinheiro, materiais, etc. O ato de guardar envolve uma questão afetiva com o objeto; enquanto que acumular é  a definição dada pelos olhos de quem vê os objetos sem o afeto de quem os guardou. O que importa nessa questão de acumular não é o ato em si, mas a função que isso têm na vida de quem o faz. Diante disso, o que pode se tornar preocupante é quando guardar estes objetos, ou acumular, possa prejudicar a si ou ao outro, prejudicá-lo em suas relações. Há situações em que o ato de acumular coisas possa ser um comportamento banal, que têm por função evitar entrar em contato com questões afetivas atuais. Como se o acúmulo desses objetos funcionassem como barreiras de acesso à algo que, provavelmente, há muita dor. E uma saída criativa para não lidar  com essa dor é se tornar um “acumulador”.

T: Então a pessoa acumula pra não mexer na ferida?

F: Não existe uma definição universal. Mas é possível que muitas pessoas façam isso como formas de ajustar-se diante das dificuldades de entrar em contato com questões doloridas de sua vida. E isso não é algo consciente, como uma escolha. É preciso analisar cada caso em cada caso. O importante é que a pessoa que acumula encontre uma maneira de lidar com essa forma de agir no mundo, criando os seus próprios sentidos. Isso é possível em psicoterapia. E, nem sempre é uma ferida (passado). Muitas vezes pode ser uma demanda afetiva no presente. Por exemplo, com as expectativas que algum familiar ou amigo tem para com esse sujeito que não têm condições de lidar com tais demandas, então banaliza, acumula.

T: O tratamento seria a terapia, mesmo?

F: Sim, psicoterapia. Porque não é uma questão superficial, comportamental. É bem mais profunda a questão. Você pode até mudar o comportamento, mas é bem provável que esta forma se repetirá em outras questões, ou em outros conteúdos, até que você entre em contato com isso que o faz agir assim. Mudar apenas o comportamento é como apenas tomar remédio para a depressão. Você trata o organismo, mas não aquilo que te fez e faz estar depressivo.

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